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Escola de Jerusálem

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Visão da Cultura

segunda-feira, abril 22, 2013

Análise Parábola Jes-us - Os 4 tipos de solo.


O primeiro tipo: o solo que representa um caminho.

Ele descreveu o primeiro tipo de solo como uma terra à beira do caminho. Esse
solo estava compacto, endurecido e impermeável. As sementes que ali foram lançadas não
penetraram nele e, portanto, não encontraram condições mínimas para germinar. Que tipo de
pessoa essa terra representa?
Representa as que têm seu próprio caminho, as que não estão abertas para algo novo,
não estão dispostas a aprender. Elas se fecham dentro do seu mundo. Foram contaminadas
pelo orgulho, não conseguem abrir o leque das possibilidades dos pensamentos. Suas
verdades são eternas e absolutas. O coração psicológico delas é compactado como a terra de
uma estrada. São rígidas e fechadas. Quando põem uma coisa na cabeça ninguém consegue
removê-la.
Quantas pessoas não conhecemos que possuem essas características? Quantas vezes
não reagimos assim? Somos turrões, teimosos, não permitimos que nos questionem. O
mundo tem de girar em torno do que pensamos. Os jovens discípulos possuíam uma
personalidade compactada, encarcerada.
As dores, as perdas e as decepções deveriam funcionar como arados para sulcar o
coração emocional, mas muitas vezes somos tão rígidos que não permitimos que elas
penetrem nos compartimentos mais profundos do nosso ser. Continuamos os mesmos.
As reflexões sobre as experiências difíceis que os outros passam deveriam funcionar
como a chuva serôdia, mansa e suave, para irrigar o território da nossa inteligência.
Entretanto, muitas vezes, ele está tão solidificado que se torna impermeável. Não
aprendemos com os erros dos outros. Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros,
uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros.


As pessoas que reagem assim repetem os mesmos comportamentos, erram os
mesmos erros. Nada as tira do seu caminho. Ninguém consegue levá-las a rever seus
paradigmas. Ninguém consegue semear em seus corações.
Ser rígido, fechado, preconceituoso não é fruto da falta de cultura acadêmica. Há
muitos intelectuais, filósofos, psicólogos, médicos que são fechados dentro de si mesmos.
Eles não podem ser contrariados, têm medo de se abrir para outras possibilidades. São
infelizes. E, o que é pior, deixam as pessoas que mais amam também infelizes.
A sabedoria requer que estejamos sempre abertos às novas lições. A humildade é a
força dos sábios; e a arrogância, dos fracos. Nem Jesus, com suas mais belas sementes da
sabedoria e do amor, conseguia fazer germinar num solo compactado à beira do caminho.
Por quê? Porque ele não invadia a psique de nenhum ser humano. Ele só trabalhava na alma
dos que lhe permitiam.
Jesus tinha em alta conta o livre arbítrio das pessoas. Era necessário que elas se
abrissem e reconhecessem seu orgulho, rigidez, arrogância, para que ele pudesse ajudá-las.
Os jovens discípulos, embora inflexíveis, abriram seu ser a ele.
Ao ouvir as suas palavras e contemplar, fascinados, os seus gestos, o solo do coração
deles foi sulcado e preparado para receber as suas sementes. Eles tinham enumeráveis
defeitos, mas eram pessoas simples. O orgulho deles não tinha raízes tão grandes, por isso
Jesus os escolheu.
Agora entendemos um pouco mais porque eles foram escolhidos. Apesar de serem
tão complicados e agressivos, eles eram mais fáceis de ser trabalhados do que os fariseus.
Estes, embora cultos e dosados, embora fossem aparentemente muito melhor do que os
jovens galileus, estavam profundamente contaminados pelo orgulho. O orgulho é um vírus
psíquico altamente destrutivo de todo e qualquer tipo de personalidade.
Os jovens discípulos começaram a sua jornada com Jesus como um solo compacto à
beira do caminho. Todos passaram por esse estágio, porque eram impulsivos, ansiosos,
agressivos. Do meu ponto de vista, a única exceção foi Judas. Ele era o melhor dos
discípulos. O território da sua emoção e dos seus pensamentos não era tão impermeável.
Judas tinha mais cultura e era mais sensato. Quando Jesus o encontrou, ele já estava no
estágio seguinte. Era de se esperar que ele brilhasse mais do que os outros, mas teve um
trágico fim.
No "Mestre da Sensibilidade", comentei que o maior favor que podemos fazer a uma
semente é sepultá-la. Uma vez sepultada, ela morrerá, mas se multiplicará. As sementes que
não penetram na terra são comidas pelas aves do céu, perdem a sua função. Infelizmente, a
maioria das sementes que recebemos não germina.
Como está o terreno da sua psique? Você consegue ser ajudado pelas pessoas que o
rodeiam? Seus amigos, filhos, colegas de trabalho conseguem falar ao seu coração? Seus
erros e sofrimentos conseguem sulcar a sua terra e torná-la apta para que as mais nobres
sementes possam crescer?

O segundo tipo: o solo rochoso.

O solo rochoso é o segundo tipo de coração que Jesus simbolizava nessa parábola.
Era um solo melhor do que o que estava à beira do caminho. As sementes nele lançadas
encontraram condições mínimas para germinar. Elas logo nasceram, visto que a terra era
pouca. Porém, logo veio o calor do sol e elas não suportaram, já que suas raízes eram
superficiais.
Quem é representado por esse tipo de solo? Como o próprio Jesus disse, ele
representa todos os que receberam rápida e alegremente a sua palavra (26). Eles fizeram
festas para ele. Compraram seus mais belos sonhos. O júbilo era incontido. Mas, um dia, os
problemas chegaram, as perdas surgiram, as perseguições bateram à porta. Ficaram
confusos.
Perceberam que o mestre dos mestres não eliminava todos os obstáculos que eles
encontravam pelo caminho. Ficaram assustados. Entenderam que não estavam livres de
decepções. Creram que todas as suas orações seriam rapidamente atendidas. Pensaram que
segui-lo era viver um céu sem tempestade, relações sem desencontros, trabalhos sem
fracassos. Mas se enganaram.
Jesus nunca fez essas promessas. Prometeu, sim, força na fragilidade, refrigério nos
fracassos, coragem nos momentos de desespero. Eles viram o próprio Jesus passar por
tantos problemas e correr risco de morrer. Essas cenas os abalaram. Será que é ele o
Messias? Será que vale a pena segui-lo? Será que seus sonhos não são delírios? Essas
perguntas os atormentavam. Desanimados, muitos desistiram de segui-lo.
Creio que todos os jovens seguidores de Jesus passaram por esse estágio. Eles não
eram gigantes, como nenhum ser humano o é. Todos nós temos nossos limites. Às vezes,
uma pequena pedra para alguém, fácil de ser contornada, representa uma grande montanha
para outrem e vice-versa. Não é tão fácil suportar o calor dos problemas, mas é necessário.
O medo dos problemas intensifica a dor. Enfrentá-los é uma atitude inteligente.-^
Mas qual é a melhor maneira de enfrentá-los? Lançando raízes nos solos da nossa
psique. As raízes de uma árvore são o segredo de seu sucesso, de sua capacidade de suportar
o calor do sol, as tempestades e o frio. As raízes dão sustentabilidade às plantas, suprem-nas
com nutrientes e água.
O segredo do sucesso de um estudante, de um executivo, de um profissional liberal,
de um esportista também está nas suas raízes. Muitos observam os resultados e ficam
fascinados, mas não percebem que seus segredos são a coragem, a humildade, a
simplicidade, a determinação, o desejo ardente de aprender enraizados nos solos de sua
emoção e de seus pensamentos.
Se você não se preocupa em cultivar raízes internas, não espere encontrar águas
profundas nos dias de aridez. As plantas que suportam a angústia do sol e os períodos de
sequidão não são as mais belas, mas as que têm raízes mais profundas. Elas atingem o
lençol freático. Encontram as águas profundas.
Um dia, as dificuldades e os problemas aparecerão, mesmo para alguém que sempre
teve uma rotina tranqüila. Os amigos vão embora, a pessoa que mais amamos não nos
suporta, os filhos não nos compreendem, o trabalho vira um tédio, o dinheiro fica escasso,
os sintomas aparecem.
O que fazer? Entrar em desespero? Não! Aproveitar as oportunidades para lançar
raízes. Jesus demonstrou que, para lançar raízes, é necessário remover as pedras, o cascalho
do nosso ser. Como? Andando por ares nunca antes respirados. Percorrendo os labirintos do
nosso ser. Correndo riscos para conquistar aquilo que realmente tem valor. Aceitando com
coragem as perdas que são irreparáveis. Reconhecendo falhas, pedindo desculpas,
perdoando, tolerando, tirando a trave dos nossos olhos antes de querer remover o cisco do
olho de alguém.
Os perdedores perturbam-se com o calor do sol, os vencedores usam suas lágrimas
para irrigar o solo do seu ser. Não tenha medo das turbulências da vida, tenha medo de não
ter raízes.
Certa vez, Jesus fez um discurso para testar seus ouvintes. Ele chocou-os dizendo que
eles deviam comer da sua carne e beber do seu sangue. Ele, na realidade, queria dizer que
suas palavras é que eram um verdadeiro alimento para nutrir os solos do espírito e da alma
deles. As pessoas que ouviram a primeira parte do seu discurso ficaram perplexas. Como
poderiam comê-lo? Escandalizados, vários discípulos o abandonaram.
Então, ele fitou os jovens discípulos e desferiu uma pergunta inesperada. Deu-lhes
liberdade para que eles o abandonassem. Um momento de silêncio reinou. Em seguida,
Pedro tomou a dianteira e, em outras palavras, disse que ele e seus amigos não tinham para
onde ir, pois Jesus tinha as palavras da vida eterna. Eles haviam crido e sonhado o sonho de
Jesus.
Os jovens galileus passaram por muitos testes. Esse foi mais um deles. A cada teste
lançavam raízes mais profundas. Os problemas e os sofrimentos eram ferramentas que os
faziam garimpar ouro dentro de si mesmos.

O terceiro tipo:o solo com espinhos.

O terceiro tipo de solo representa uma terra melhor do que temos visto até o
momento. O solo era adequado. Não era compactado, não havia pedras no seu interior. As
sementes encontraram um excelente clima para crescer. Lançaram raízes profundas,
conseguiram atingir águas submersas, suportaram o calor do sol e as intempéries. Elas
cresceram com vigor e entusiasmo.
Os problemas exteriores não conseguiam destruí-las. Junto com as pequenas plantas
geradas pelas belas sementes cresceram, sutilmente, os espinhos.<-no br="" cio="" espinhos="" in="" os="">aparentavam ser gramíneas frágeis e inocentes. Havia espaço para todas as plantas,
poderiam conviver juntas. Entretanto, os meses se passaram e as plantas e os espinhos
cresceram. Então, algo imprevisível aconteceu. O espaço que era tão grande começou a ficar
pequeno. Iniciou-se uma competição.
Os espinhos começaram a competir com as plantas pelos nutrientes, oxigênio, água e
raios solares. Como estavam mais adaptados, deram um salto. Cresceram rapidamente e
começaram a sufocar as plantas. Elas clamavam pelos nutrientes e pelos raios solares para
fazer a fotossíntese, mas os espinhos controlavam seu desejo de viver. Assim, apesar de ter
raízes profundas e de conquistar um bom porte, as plantas não frutificaram, não
sobreviveram.
Que grupo de pessoas ou que estágio da personalidade esse tipo de solo representa?
Representa as pessoas mais profundas e sensatas, que permitiram o crescimento das
sementes do perdão, do amor, da sabedoria, da solidariedade e de todas as demais sementes
do plano transcendental do mestre dos mestres.
Elas suportaram as incompreensões, as pressões, as dificuldades externas. Viram
Jesus sofrer oposição e perseguição, mas não desanimaram. Ficaram amedrontadas quando
ele, por diversas vezes, quase foi apedrejado, mas não o abandonaram. Nenhuma crítica,
rejeição, doença, decepção ou frustração parecia roubar-lhes o desejo de segui-lo.
Dia a dia tornaram-se fortes para vencer os problemas do mundo. Os anos se
passaram e elas pareciam imbatíveis. Entretanto, não estavam preparadas para superar os
problemas do seu próprio mundo, que cresciam sutilmente no âmago do seu ser. Jesus disse,
nessa parábola, que os espinhos representam as preocupações existenciais, os cuidados do
mundo, as ambições, a fascinação pelas riquezas.
Quem não tem preocupações? Freqüentemente, somente as pessoas irresponsáveis
estão livres de preocupações. Quem não antecipa situações do futuro e vive no passado?
Quem não se perturba com as incertezas do futuro? Quem não tem ambição? Mesmo o mais
humilde dos homens tem ambição, ainda que ela seja para conservar sua timidez e não
expressar suas idéias. Quem não é seduzido pelas riquezas? Há inúmeros tipos de riquezas
que fascinam o ser humano: possuir dinheiro, ser admirado, ser reconhecido, ser maior do
que os outros.
Os grandes problemas, como doenças ou risco de morrer, não destruíam os
discípulos. Agora teriam de passar no teste dos pequenos problemas que cresciam no solo da
sua alma e competiam com as plantas oriundas das sementes do mestre dos mestres. A
arrogância competia com o perdão, a intolerância competia com a compreensão, a
necessidade de poder competia com o desprendimento, a raiva e o ódio competiam com o
amor.
Um dos maiores problemas que sufoca as plantas não é o fracasso, mas o sucesso. O
sucesso profissional, intelectual, financeiro e até o espiritual, se não forem bem
administrados, paralisam a inteligência, obstruem a criatividade, destroem a simplicidade.
Seu sucesso o tem paralisado ou libertado?
Muitos líderes espirituais dão uma atenção especial para cada um dos seus ouvintes,
se preocupam com a dor que eles sentem, quando o número deles é pequeno. Todavia, após
conquistarem milhares de ouvintes, perdem o encanto por eles, pois se tornam apenas
números. Jesus disse que ele era o bom pastor (27>. A fama jamais o fez perder o contato
íntimo com as pessoas. Ele conhecia cada ovelha pelo seu nome, se preocupava com cada
uma das suas necessidades.
Muitos cientistas, no começo da carreira, são ousados, criativos e aventureiros. Mas,
à medida que sobem na hierarquia acadêmica, sufocam sua capacidade de pensar, se tornam
estéreis de idéias. Muitos executivos, quando estão no auge da carreira, sufocam sua
coragem, perspicácia e sensibilidade. Têm medo de correr riscos, não exploram o
desconhecido. Perdem a capacidade de enxergar os pequenos problemas que causarão
grandes transtornos no futuro.
As sementes dos espinhos estavam presentes desde a mais tenra formação da
personalidade dos discípulos, portanto, estavam ecologicamente adaptadas. Algumas
preocupações são legítimas, como a educação dos filhos, ter segurança, uma boa
aposentadoria, um bom plano de saúde. O problema ocorre quando essas preocupações nos
controlam, roubam nossa tranqüilidade e capacidade de decidir. Muitas pessoas são
diariamente assaltadas por pensamentos perturbadores. Elas são maravilhosas para os
outros, mas são escravas dos seus pensamentos. Não sabem cuidar da sua qualidade de vida.
Eu moro no interior de uma mata. Um lugar belíssimo. Não é fácil plantar uma flor
neste lugar, pois ela não está adaptada ecologicamente. As formigas a atacam com grande
voracidade e os espinhos e outras plantas crescem rapidamente competindo com ela. É
preciso cultivar diariamente, arrancar as ervas daninhas, afofar a terra, irrigar e suprir com
nutrientes.
Do mesmo modo, precisamos cuidar do ecossistema do coração psicológico.
Diariamente, temos de remover o lixo que se acumula nos terrenos da nossa emoção. Temos
de reciclar os pensamentos negativos e perturbadores que sutilmente são produzidos.
Judas foi assaltado pouco a pouco por pensamentos perturbadores e não os superou.
Nos primeiros anos, ele jamais pensara que trairia Cristo. Judas queria que ele virasse a
mesa dos fariseus, mas Jesus era paciente com seus inimigos. Judas queria que ele tomasse o
trono político de Israel, mas ele queria o trono do coração humano. Ele admirava Jesus, mas
não o entendia, não o amava. Estudaremos esse assunto quando abordar o desenvolvimento
da personalidade dos discípulos. Os espinhos, no secreto da alma de Judas, cresceram.
Como ele não os tratou, eles sufocaram os belos ensinamentos do mestre dos mestres.
Perdemos simplicidade à medida que a vida ganha complexidade. O homem do
mundo moderno é mais infeliz do que o do passado. A ciência aumentou, a tecnologia deu
saltos, as necessidades expandiram-se e, assim, a vida perdeu sua singeleza e poesia.
Pais e filhos tornaram-se técnicos em falar de coisas que não dizem respeito a eles,
mas não sabem falar de si mesmos. Não sabem chorar e sonhar juntos. Amigos ficam anos
sem se visitar ou dar sequer um telefonema um para o outro. Não temos tempo para as
coisas importantes, pois estamos entulhados dentro de nós mesmos. Se não temos problemas
exteriores, nós os criamos.
Jamais devemos nos esquecer de que o registro das experiências psíquicas é
automático, produzido pelo fenômeno RAM. Se não tratarmos as nossas angústias,
preocupações com doenças, medo do futuro, reações ansiosas, eles vão se depositando nos
solos da memória tornando-os ácidos e áridos. As flores não suportam tal acidez, mas os
espinhos a adoram.
Quem não tem esse cuidado vai se entristecendo e adoecendo lentamente, ao longo
da vida, mesmo que tenha tido uma infância saudável. Chega ao ponto da vida ficar tão
amarga que a pessoa não entende por que é infeliz, impaciente, tensa ou por que possui
doenças psicossomáticas. Não há problemas exteriores, não atravessa crises familiares,
financeiras e sociais. Tem todos os motivos do mundo para viver sorrindo, mas está
angustiada. Por quê? Porque não cuidou das ervas daninhas do seu interior. A parábola do
semeador contada por Jesus é altamente psicoterapêutica. Devemos estar alerta.
Que tipo de solo você é? Você tem cuidado das principais plantas da sua vida? Você
tem plantado flores nos solos de sua memória ou os tem entulhado de lixo e preocupações
sociais?

O último tipo de solo: a boa terra.

Chegamos à boa terra, o solo que o mestre da vida queria para plantar e cultivar as
mais importantes funções da personalidade. Jesus ansiava por mudar o ecossistema da
humanidade, mas ele precisava do coração humano para realizar essa tarefa. O coração
psicológico que representa a boa terra foi o que removeu as pedras, suportou as dificuldades
da vida, lançou raízes profundas nos tempos de aridez, debelou os problemas íntimos e,
assim, criou um clima favorável para frutificar com abundância.
Quem representa a boa terra? O próprio Jesus disse que são os que compreenderam a
sua palavra, refletiram sobre ela, permitiram que ela habitasse no seu ser. Comportaram-se
como sedentos ansiosos pela água, como o ofegante ávido pelo ar, como crianças famintas
pelo leite. Não eram movidos apenas pelo entusiasmo das boas novas, mas pela disposição
desesperada de aprender.
Devo ressaltar que esse grupo privilegiado de pessoas não era o mais inteligente,
culto, puro e ético. Muitos membros desse grupo eram complicados, tinham enormes
defeitos, fracassaram inúmeras vezes, mas superaram seus conflitos, deram valor ao que
realmente importava, abriram seu coração ao vendedor de sonhos e aplicaram a sua palavra
dentro de si mesmos.
Alguns deles foram longe nos seus erros. Caíram no ridículo e ficaram
decepcionados consigo mesmos, como Pedro. Entretanto, tiveram coragem de perceber suas
limitações e de se esvaziar para aprender as mais profundas lições nas mais
incompreensíveis falhas. Não tiveram medo de chorar e começar tudo de novo.
Os jovens galileus entenderam, ao longo dos meses, que não bastava admirar Jesus.
Não bastava aplaudi-lo e considerá-lo filho do Deus Altíssimo. Entenderam que segui-lo e
amá-lo exigia um preço.O maior de todos os preços era reconhecer as próprias misérias. Era
enfrentar o egoísmo, o individualismo, o orgulho que contaminava diariamente o território
de sua emoção. Era aprender a amar incondicionalmente, a dar a outra face e a não desistir
de si e de ninguém, por mais que falhassem...
Para o mestre dos mestres ós solps não eram estáticos. Um tipo de solo poderia se
transformar em outro. Jesus usava várias ferramentas para poder corrigir os solos dos seus
discípulos. Ao andar com eles, ele os colocava em situações difíceis, fazia-os entrar em
contato com seu medo, ambição, conflitos. Ele os treinava constantemente a "arar" a alma, a
esfacelar os torrões, a corrigir a acidez e a repor nutrientes. O resultado ninguém conseguia
prever. Era uma tarefa quase impossível. Jesus tinha tudo para falhar.
Passado mais de um ano, os discípulos apresentavam reações agressivas e egoístas.
No segundo ano, ainda perpetuavam as competições, uns queriam ser maiores do que os
outros. No terceiro ano, o individualismo ainda tinha fortes raízes. No final da sua jornada,
logo antes da sua crucificação, o medo ainda encarcerava os discípulos. Jesus parecia
derrotado. Mas ele persistia como se fosse um artesão da inteligência humana. Ele confiou
completamente nas suas sementes!
Ele não era apenas um vendedor de sonhos, mas também um vendedor de esperança.
As pessoas podiam cuspir no seu rosto, esbofeteá-lo, negá-lo e até traí-lo, mas ele não
desistia delas. Ele acreditava no genoma das suas sementes e nos solos que cultivara. Será
fascinante descobrirmos o que aconteceu.
Para o mestre da vida, nenhum solo era inútil ou imprestável. Uma prostituta poderia
ser lapidada e ter mais destaque do que um fariseu. Um coletor de impostos corrupto e
dissimulado poderia ser transformado a tal ponto que superaria no seu reino um líder
espiritual puritano e moralista. Um psicopata inumano e violento poderia reciclar a sua vida
a tal ponto que seria capaz de recitar poesias de amor, ter sentimentos altruístas e correr
riscos para ajudar os outros.
Raramente alguém acreditou tanto no ser humano. Nunca alguém entendeu tanto das
vielas da nossa emoção e desejou transformar o teatro da nossa mente num espetáculo de
sabedoria...

Autor: Augusto Cury - Análise da Inteligência de Cristo 5 - O Mestre Inesquecível - Pag 43-49.

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